domingo, maio 20, 2007


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FEIRAS NOVAS – 1826-2006

DE

AMÂNDIO SOUSA VIEIRA




Depois de «O Minho Pitoresco» de José Augusto Vieira, a bibliografia do Minho e de Ponte de Lima tem agora mais uma obra monumental: Feiras Novas - 1826-2006.

«Amândio de Sousa Vieira foi recolhendo, aqui e acolá,» como já disse noutro sítio, «essas flores roxas e amarelas para colorir e perfumar um dos temas mais atraentes da colectividade limiana»: as nossas festas. Um conjunto imenso de documentos proveniente dos arquivos municipais, das confrarias, da chancelaria régia, da literatura, da imprensa, das artes gráficas, pictóricas e fotográficas, vieram povoar esta obra. Todos esses documentos colocam em cena os homens da terra no espaço e no tempo com os seus sentimentos, as suas crenças, os seus modos de vida, os seus trajes, as suas discórdias, os seus lamentos, os seus dias de alegria, os seus sonhos.

Muito tempo depois, parece-nos escutar ainda a voz do rei, de Dom Pedro IV a fazer saber que os moradores da vila de Ponte de Lima pediam a concessão de três dias de feira anual (19,20,21 de Setembro) para se conservar o culto de Nossa Senhora das Dores. A graça foi concedida no dia de hoje, 5 de Maio, mas no ano já distante de 1826.

São estas fontes que nos encantam porque cativam o tempo longo, o tempo profundo de quase dois séculos e deixam as nossas gentes e as nossas festas na rua em bulício durante aqueles três dias de Setembro. Diante dos nossos olhos deslocam-se os carpinteiros com as tábuas às costas para montar as barracas, milhares de copinhos iluminam as ruas e a porta da Igreja, as tigelas de sebo deixam os seus «lumes» nos canteiros do jardim, nos muros das casas senhoriais e nos monumentos, escutam-se bandas de música e tambores, «tocatas de músicos da aldeia», «descantes e risadas», imagina-se o fogo do ar e preso, o baile mascarado, o baile da espadelada, o cortejo luminoso, a representação teatral, espectáculos de «bailarinas espanholas», a feira do gado, a espera dos toiros e as touradas, o ciclismo, as corridas de automóveis, os jogos de futebol entre o Lusitano Futebol Clube e o Sport Club Vianense, o cinematógrafo popular, o pimpampum e as quermesses, a roda dos cavalinhos e o circo, os gigantones e os cabeçudos, os Zés pereiras, a «missa cantada acompanhada a instrumental» e a procissão. Nestas transposições de memórias, vê-se o povo a encher o areal e o passeio, as «moças, em mangas, coletes vistosos bordados a retrós», os «rapazes, jaqueta ao ombro, chapéu derrubado, ramo de alfádega atrás da orelha» e os «rapagões (…) experimentando as cornetas de barro». Também nos chegam momentos de alguma tristeza: a «chuva torrencial não nos deixou um momento» diz António Feijó numa carta enviada a Luís de Magalhães, seu grande amigo. Nesse ano de 1909,lá está o seu (e o nosso) desalento: «não houve feira, nem fogo, nem iluminações.»

Anos após ano, mil e um quadros das nossas festas foram evocados pela sensibilidade dos nossos prosadores: António Ferreira, Rodrigo Veloso, João Gomes D’Abreu, Miguel de Lemos, Delfim Guimarães, D. João de Castro, José Castilho, Eduardo de Castro e Sousa, Carlos Passos, José Velho Dantas, Conde d’Aurora, o António e a Maria Manuela Couto Viana, Luís Forjaz Trigueiros, António Amorim, Augusto de Castro e Sousa, José Crespo, Francisco Sampaio, Daniel Campelo, José Rosa Araújo, Padre Manuel Dias, Cláudio Lima, Carlindo Vieira, Adelino Tito de Morais, Severino Costa, Franclim Sousa, Amândio Sousa Dantas, José Carlos Magalhães Loureiro, João Barros, Alberto do Vale Loureiro, Faria de Morais, César Lima, José António Cunha, João Carlos Gonçalves, Rodrigo Melo, Maria João Vieira, D. Carlos Martins Pinheiro, Rosário Sá Coutinho e muitos jornalistas anónimos do Comércio do Lima, Estrela do Lima, Echo do Lima, Democracia do Lima, O Lethes, Rio Lima, Cardeal Saraiva, Jornal do Minho, A Semana, Correio do Norte, Vida Nova, A Voz Académica, Povo do Lima, Alto Minho. Entrevistados por César Lima, Aníbal Rocha e Abel Braga deixaram aqui também as suas vivências. Para juntar todo o nosso património cultural vieram também os poetas, a lírica limiana de António Feijó, Pereira da Cunha, Teófilo Carneiro, António Vieira Lisboa, Victor de Castilho, João Marcos, Maria Cândida Brandão, Cláudio Lima, Amândio de Sousa Dantas, Fátima Meireles, José Vieira, Carlos Lima Magalhães, Casimiro Pereira Alves. E por último, os vocabulários significantes da pintura do Américo e do Ovídio Carneiro, da Madalena Vieira Martins e das fotografias do Conde d’Aurora, do Engenheiro João D’Abreu Lima, do José Pereira Marinho, do José Dantas, do Professor José Manuel Silva e do Amândio de Sousa Vieira. E é ele, o Amândio, a lembrar aqui que fotho, em grego, quer dizer luz na nossa língua. A luz mágica das suas fotografias, a luz mágica dos afectos que deixou a palpitar nesta obra, a luz mágica destas imagens…

Luís Dantas

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