segunda-feira, dezembro 06, 2010


ALTO AMOR EM ALTO RIO

POR

AMÂNDIO SOUSA DANTAS


«um dos autores mais puros do nosso «pós-modernismo» poético...»


Miguel de Mello

Suplemento cultural do Diário do Minho



Depois de Sentimento da Ausência (1981), Poemas da Imigração (1985), Na Cidade Estrangeira (1987), Emigrar na Primavera (1991), Perfeito Chão de Voar (1994), Sombra e Ramos Sobre o Peito (1997), Infinita é Toda a Nascente (1998), Há uma Eterna Liberdade (200), O Instante é a Tua Face no Poema (2001), Pousado no Silêncio (2003), No Ombro o Orvalho (2006), Poemas da Emigração» (2010), Amândio Sousa Dantas acaba de publicar Alto Amor em Alto Rio (2010). Parece-me que nenhum outro autor português trabalhou em verso tão exaustivamente a problemática da emigração portuguesa do nosso tempo nos seus múltiplos aspectos. Reconhecido o seu mérito, aqui e acolá (esteve num programa televisivo da Alemanha, foi lido e estudado nas revistas Latitudes de Paris, Colóquio /Letras da Fundação Calouste Gulbenkian, no Diário de Lisboa, no Jornal de Letras, Artes e Ideias, nos periódicos do Alto Minho), faz a sua peregrinação comprometido com a vida pelas veredas da liberdade e da fraternidade. É, por isso, um poeta das questões sociais, como foi Antero e Gomes Leal, que «leva a palavra ao sangue do poema.» Mas é também o cantor lírico do Lima, das suas gentes, dos homens, das mulheres da aldeia, da alma do universo, das nostalgias, das paisagens luminosas, das montanhas e do amor, à moda de Rainer Maria Rilke. Em muitos momentos da sua obra, lá está também a metáfora, o sonho, o enigma, o verso surreal, a evocação dos seus poetas preferidos:


OS PASSOS À VOLTA DA CIDADE


Á memória de Mário Cesariny


Os passos à volta da cidade

só céu & plátanos

( e eu o Outono deslaço).


Pelos seus laços

estrelas eu vejo

pousadas e nuas nos ramos


e a cidade à noite calada

- só estrelas & plátanos

espreitam os anjos?

Meus olhos são asas

e anjos não vejo

(presságios abraço).


Os passos à volta da cidade

sõ céu & plátanos e

anjos os ramos enlaçam.

terça-feira, setembro 07, 2010








QUANDO JUNTO ÀS HORAS SE ILUMINA UM RIO

DE

ALICE FERGO








Chega-nos esta poesia dos sonhos, das sombras, das aragens, das essências odoríferas, dos pomos, das palavras misteriosas, das cores e dos rios. «O rio sobe desde as profecias. Sobe como um órgão filiforme entre os quadris da areia. Ora púbere. Ora viril. Sazonal por Osíris. A jóia. O rio vê tudo com uma visão faraónica e, de tempos a tempos, conta as águas pelas constelações do reino. Logo tu, senhora de múltiplos segredos e profundos seios, nele te inquietas por quem esperas – por quem morres de morte serpentina entre a paixão do negro e do vermelho.» (1) Com a palavra, a imaginação, o estilo poético, o abstraccionismo, o arrebatamento íntimo e uma sensibilidade delicada, Alice Fergo foi criando, nesta obra, um universo místico que resgata para o nosso tempo quadros longínquos, primitivos, cristalinos e mágicos «de bisontes que pegaram no sono em salas rupestres» (2), de «lobos secretos e suas crias em desolação» (3), de «girassóis» que «dançam como felinos mansos» (4), da «água tardia com aparas de sol» (5), de «frases curtas para caberem na praia» (6) e «daquele silêncio de onde tudo vem» (7).
A força deste lirismo estremece nos sentidos e é, ao mesmo tempo, um desafio à imaginação visual. Não só porque «entre o roxo e o lilás mais parece noite» (8) ou pelo «céu de pólvora» (9), o «precipício azul dos náufragos» (10), o «campo amarelo» (11), o «dia azul exacto na casa» (12), mas principalmente pelo conjunto das imagens reveladas nos poemas. O processo do fazer poético parece que se aproxima de alguma arte expressionista, da Dança de Henri Matisse, dos Três Nus na Floresta de Ernst Ludwig Kirchner, das Casas Vermelhas de Erich Heckel, do Jardim em Flor de Emil Nolde, do Nu Feminino a Dançar de Christian Rohlfs, do Cavalo a Sonhar de Franz Marc, da Solidão de Alexej von Jawlensky, do Lago na Floresta com Dois Nus, de Otto Mueller.

Notas
(1) Alice Fergo, Quando Junto às horas se ilumina um rio, Editora Labirinto, Fafe, 2010, pg. 27
(2) Alice Fergo, obra citada, pg. 54
(3) Alice Fergo, obra citada, pg. 29
(4) Alice Fergo, obra citada, pg. 52
(5) Alice Fergo, obra citada, pg. 58
(6) Alice Fergo, obra citada, pg. 65
(7) Alice Fergo, obra citada, pg. 44
(8) Alice Fergo, obra citada, pg. 30
(9) Alice Fergo, obra citada, pg. 17
(10) Alice Fergo, obra citada, pg. 22
(11) Alice Fergo, obra citada, pg. 25
(12) Alice Fergo, obra citada, pg. 39

sábado, setembro 04, 2010







O CORPO NA VERTIGEM

de

JULIÃO BERNARDES









Nesta obra de Julião Bernardes, O Corpo na Vertigem, não existe a separação sujeito/objecto. Todas as temáticas, a vida, o homem, o corpo, a terra, o amor, a palavra, o tambor, a dança, o sonho, o rio, o mar, o silêncio, a noite, o vento, a saudade, a dor, as folhas no verde da paisagem, a praia deserta, a casa e o natal, são vividas profundamente pelo poeta na sua escrita luminosa e criativa. De poema em poema, a redescoberta do seu mundo aparece com uma luz nova no vocabulário rumoroso, nos efeitos plásticos, nas metáforas, na magia da sonoridade. Da ambiência africana, vem este poema, O Batuque:




O calor
destes dias
de langor

Noites frescas

pitorescas


O rumor

do tambor

em louvor

do deus Pã


O tantã


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantanã


Corpos suaves

remexidos

no abandono

do tambor


Tã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Pés que arrastam

a distância

pés que oscilam

sem canseira

e deliram

noite inteira


Tã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Mãos nas ancas

que balançam

livremente


docemente


vagamente


violentamente


na entrega

ao prazer

de mover

por mover


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Bocas secas

sequiosas

desejosas

de beber


para a sede

não sentir


e que pedem

a entrega

num sorriso

que se pega

a sorrir


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Tudo dança

corpo e alma


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


e tão sinples

este gosto


de matar

o desgosto

na entrega

sem disfarce


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


A alegria


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


A magia


Tã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Noites quentes

de luar

que convidam

a seguir

sem parar

‘té manhã


este ritmo

do tantã


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tantantã









RETRATOS GALLEGOS

Luís Dantas











Em Retratos Gallegos a tenaz sagacidade da comunidade galega, principalmente em Portugal, é abordada de forma inovadora e criteriosa, bem ao jeito criativo do fazer história deste escritor investigador.

José de Sousa Vieira
in Da Minha Sebenta

Limianismo, corrente cultural e afectiva sobre Ponte de Lima e o Vale do Lima

O autor limiano Luís Dantas acaba de lançar mais um livro, desta feita intitulado «Retratos Gallegos».
Na publicação de 140 páginas, Luís Dantas fala da terra e o povo no século XIX, a emigração interpeninsular, a emigração transatlântica, os galegos entre Douro e Minho, os aguadeiros em Lisboa, os amoladores e moços de fretes, gente de negócios em Lisboa, Santo Amaro dos Galegos e os galegos no Teatro D. Maria II.
Luís Dantas tem publicados onze livros, entre poesia e prosa.

Jornal Alto Minho, 2 de Setembro de 2010

domingo, junho 06, 2010


SOCIABILIDADE RELIGIOSA EM VIANA DO CASTELO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

POR JOSÉ CARLOS DE MAGALHÃES LOUREIRO


O meu respeito pelos textos de José Carlos de Magalhães Loureiro permanece desde o seu artigo As Feiras Novas no Princípio do Século publicado no Anunciador (1994). Vi logo que estava ali um jovem historiador animado pelo seu ofício, com uma grande capacidade de dar vida aos documentos. Uma das suas mais recentes obras, Sociabilidade Religiosa em Viana do Castelo na segunda metade do século XIX, começa por uma abordagem consistente da vida dos homens e das confrarias das Almas, Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora da Piedade, Santa Luzia e Senhor Jesus dos Mareantes. Diante da escassa informação das fontes, abriu outros caminhos para traçar o perfil socioprofissional dos confrades. E, como resultado, lá estão os resquícios das primeiras corporações medievais dos trabalhadores do mar e dos ofícios na realização das festas e das cerimónias religiosas, no espírito puro da caridade, como as ajudas à hospitalização, funerais e meios de sobrevivência das viúvas. São os comerciantes, os artífices, os pescadores e os marítimos que aparecem em lugar de destaque, e depois as elites urbanas, que estão ligadas à confraria de Santa Luzia, «de criação tardia». José Carlos de Magalhães Loureiro mostra-nos como os confrades procuram manter os costumes, os códigos de ética, a socialização dos comportamentos, a devoção ao santo, a piedade. Os estatutos que regiam a confraria (do Senhor dos Mareantes) até 1884 previam como direito dos irmãos e familiares, no campo da assistência, a mortalha e a sepultura condigna. Estavam ainda obrigados a dar assistência e socorro aos mareantes e pescadores mortos dados à costa e aos pobres peregrinos que cruzavam a cidade.» (1)

A Confraria de Santa Luzia não recrutava apenas os homens e mulheres do lugar, mas de outras aldeias, vilas e cidades do país e do estrangeiro, como Ponte de Lima, Monção, Braga, Porto, Coimbra, Lisboa, Pará, S. Paulo e Rio de Janeiro. Estes grémios populares estavam enraizados na crença, na ajuda mútua, no calendário festivo, na vida quotidiana, e não eram alheios, por isso, à evolução política, aos receios da peste, aos maus anos agrícolas. O Historiador compara o ritmo das inscrições com os ciclos económicos para concluir: «A ligeira subida de preços nos primeiros anos da década de vinte, parece afectar levemente o número de ingressos. Por seu lado, a descida dos preços entre 1825-30 impulsiona, nas confrarias estudadas, a sua subida.» (2)

Estamos na presença de uma investigação inteligente, ponderada e criativa em torno de múltiplos documentos que, pelo modo como são lidos e transcritos, fazem reviver não só as antigas confrarias vianenses, mas também a conduta dos homens no espaço urbano e sagrado, as festas da cidade, os percursos processionais e o toque dos sinos na vida e na morte.

José Carlos de Magalhães Loureiro pertence a uma nova geração de Historiadores que escuta cada vez mais as palpitações da vida local. Aqui se faz, e aqui se tem feito, a renovação da ciência histórica. Em muitos aspectos, a História Geral depende da História Local. É o que nos diz, ao fim e ao cabo, um grande sociólogo paulista: «A História não será correctamente decifrada pelos pesquisadores se não estiver referida a esse âmbito particular que é o sujeito e o da história local, isto é, ao modo de viver a História. Por essas meditações a compreensão da História se enriquece, mas se enriquece também a consciência histórica de quem age na esperança de dar sentido ao seu destino no destino do género humano» (3)


NOTAS


(1) José Carlos de Magalhães Loureiro, Sociabilidade Religiosa em Viana do Castelo na segunda metade do século XIX, Edição da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Viana do Castelo, 2005, pp. 28-29

(2) José Carlos de Magalhães Loureiro, Sociabilidade Religiosa em Viana do Castelo na segunda metade do século XIX, Edição da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Viana do Castelo, 2005, pg.70

(3) José de Souza Martins, A Sociabilidade do Homem Simples: Cotidiano e História na modernidade anómala, Editora Contexto, São Paulo, 2.ª edição, 2008, pg. 117

segunda-feira, março 22, 2010


POEMAS DA EMIGRAÇÃO


AMÂNDIO SOUSA DANTAS


Trajecto dum emigrante poeta


Prefácio


O fenómeno social excepcional que foi a saída (e fuga) do país nos anos sessenta e inícios de 70 do século passado, que envolveu na sua maior parte a juventude, e determinou a fixação em França, na Alemanha e em outros países de centenas de milhar de portugueses, ainda que tenha dado lugar ao aparecimento de uma poesia verdadeiramente distinta e de indiscutível afirmação, não teve ainda quem a estudasse devidamente a ponto de ser devidamente reconhecida (1). Uma parte dessa juventude, a mais letrada, regressou ao país após a revolução do 25 de Abril aí desempenhando um papel destacado tanto nas letras como na esfera sociopolítica. Alguns artigos revelaram aspectos da expressão poética daí derivada e, estamos certos, que não tardará a ser melhor estudada. O lugar que ocupará na cultura portuguesa essa actividade criativa (inclusivamente no domínio mais interferente da música) está garantido por se associar ao movimento social e político que marcou o último terço desse século.

Através das duas principais revistas que nasceram entre os portugueses residentes na Europa - Peregrinação (1985-1995) e Latitudes (1997-...) tivemos oportunidade de conhecer de perto a criação poética de Amândio Sousa Dantas que, muito jovem, publicou o seu primeiro livro, Sentimento de Ausência, em Osnabrück, no norte da Alemanha, seguindo-se outros, antes de regressar à sua terra de origem, o prolífero e acolhedor Minho. Ao reunir agora poesia dos seus primeiros quatro livros, pensada e sentida no exterior, evidencia a sua fidelidade a uma juventude conturbada que talentosamente soube superar pelo risco da escrita, o modo de expressão que brota naturalmente das suas veias. A sua escrita actual, não obstante conservar a mesma elegância, denota maior hermetismo ao mesmo tempo que se abre para temáticas que conquistaram oportunidade.

Desde o início, os seus versos nos impressionam pelo seu ritmado encadear que aparenta inspirar-se dos clássicos renascentistas. Eles são alimentados pela sensação da continuidade, por um devir que torna as acções mais vivas, mais coloridas, que foi identificado àquele período excepcional de grandes mudanças civilizacionais. Foi então que os portugueses conheceram um período áureo com as Descobertas, o seu maior feito. Esta herança de Amândio Sousa Dantas permanece um mistério que só pode advir da identificação

com uma música pessoal, recôndita e obscura, um sentir inconsciente, certamente, que abriga o seu talento poético.

Havíamos identificado noutro texto, nos tons dos versos de Amândio S. Dantas uma musicalidade individualizada e no livro, Emigrar na Primavera (1991) a presença e quase instalação num mundo perdido, marcado pela desintegração da natureza, sugere-nos a dolorosa decepção do poeta de cans, Sá de Miranda; cujo amargurado retiro se verificou nas mesmas terras do verde Minho. Pelo meio das árvores transformadas, de águas e folhas iça-se uma dor psicológica, afectiva, qual fenda, inserida noutra poética mais actual mas igualmente subtil, maviosa e dolente.

Amândio, porém, percorre outros espaços. Em “Junto às estações o coração" podemos apreender um distinto arranjo formal, próximo da experiência interseccionista de Fernando Pessoa, que assimila inclusivamente um trabalho vocabular que teve em Gastão Cruz, da Poesia 61, o maior cultor. Numa simplicidade pagã - que herança terá do mestre Alberto Caeiro? - em versos curtos, aparentemente desordenados, reencontramos, em filigrana, uma assimilação de variadas leituras, que dotam a sua poesia duma tensão intrínseca e de maior densidade. Há efectivamente nesta recolha de poemas uma atmosfera angustiante, prefigurando a sensação de perda. A observação e apreciação do silêncio - com uma presença intensiva e inesperada para a mente de um jovem - dá as mãos à saudade, que se repete sem receio nem vergonha, perscrutando um sinal, uma carta, construindo uma sensação de solidão sem excessivo desespero, numa acalmia bem portuguesa, desconhecedora de excessos. Alguns, erradamente, alvitrariam a subserviência a um destino predeterminado, irremediável de configuração ancestral.

No entanto, o poeta abre outras frestas para o mundo, para a encantadora natureza e inclusivamente se mostra sensível a uma cena inabitual de comunhão de patriotismo à volta duma mesa, experimentada no seu exílio no Norte da Europa. Por aí passa a defesa e ilustração da cidade germânica de adopção, associada a génios da música e da poesia. Por esta dimensão exteriorizada, o lirismo melancólico passa a uma plataforma outra, da ordem do colectivo, provinda dessa vivência que coube à juventude portuguesa nas ditas décadas. A arte poética de Amândio, retirando pela sua curiosidade inquieta, as pulsações dos novos ambientes, engrandeceu o universo lusitano de novas paisagens e impressões num movimento apertado mas de abertura embora prematuro no tempo. O regresso ao país haveria de provocar o surgimento de um novo ciclo.

As composições aqui reunidas fruto das suas primícias poéticas, criadas num clima tão particular, comportam, como sucintamente apontámos, além dum significado estético, uma imagética distinta intimamente ligada ao espaço geográfico e ao tempo psicológico vividos, e que ficarão a assinalar um caminho irreversível que por intermédio do seu talento poético é proporcionado a todos nós e para sempre. Este acto editorial pode encarar-se ainda como um marco assinalável nas terras do Norte de Portugal, das que mais verteram gente pela Europa fora, provocado pelos egoísmos duma minoria, lançando o país e a sua juventude numa intolerável aventura humana. No seu estro poético Amândio havia de aperfeiçoar o seu modo de resistência, tal bóia de náufrago no largo atlântico.

1. O que dizemos relativamente à poesia se pode dizer em relação a outras dimensões da vida cultural e social. Ainda não chegou a hora de aquilatar desse contributo provindo dos exilados (ou novos estrangeirados).

Janeiro 2010

Daniel Lacerda

director da revista Latitudes (Paris)