domingo, maio 06, 2007

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NORTON DE MATOS
VERSUS
EGAS MONIZ

UM DUELO HISTÓRICO

POR JOÃO DE ARAÚJO PIMENTA



O livro «Norton de Matos Versus Egas Moniz - um Duelo Histórico» vem evocar um quadro paradoxal das relações dos homens no tempo. O autor, que pertence a uma geração de médicos que trouxe renovação à prática da medicina, fez uma pesquisa fecunda e construiu uma síntese admirável sobre o duelo , a vida e a morte, as controvérsias, os códigos, os rituais, as armas, o elenco de apoio. « A acompanhar os padrinhos havia a indispensável equipa médica não só para tratar os possíveis feridos, mas também para emitir parecer acerca da importância dos ferimentos na prossecução ou não da luta, e ainda para a desinfecção das espadas, tarefa realizada antes do prélio e sempre que ao decorrer destes houvesse algum toque fortuito de arma no solo. A prática corrente desta desinfecção talvez explique a raridade de referências na nossa literatura médica a casos de tétano nos duelistas, se levarmos em conta o risco que estes corriam de, com os ferimentos, contraírem esta infecção grave».(1)

E estamos assim colocados em face do evento aqui tratado na conjuntura agitada da época: « o Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, a Revolução de 5 de Outubro de 1910, as lides das sociedades secretas, os surtos de greves, sedições e tumultos acentuaram esse alvoroço, em especial nas classes política e militar da capital. A aumentar este desvario surgiu uma onda de duelos no seio destas mesmas classes cujos membros, envolvidos numa notória impunidade, procuravam usar esta forma de combate para lavar as mal chamadas questões de honra.» (2)

Egas Moniz fez nessa ocasião um discurso na Câmara dos Deputados sobre a questão de Ambaca. «Após citar o meu nome», disse Norton de Matos, empregou expressões que me ofendem na minha honra e dignidade.» (3)Como não houve desagravo, os dois vultos da nossa história cruzaram armas para matar ou morrer. Mas o desfecho não foi trágico: ambos ficaram feridos. Mais grave foi a lesão de Norton de Matos e por isso, na opinião dos médicos, «o duelo não podia prosseguir». (4)

João de Araújo Pimenta deixou nesta obra um registo vibrante e pormenorizado que é imprescindível para a outra História: a das Mentalidades.

Luís Dantas

(1) João de Araújo Pimenta, obra citada, pp. 17-18

(2) João de Araújo Pimenta, obra citada, pg. 7

(3) João de Araújo Pimenta, obra citada, pg. 31

(4) João de Araújo Pimenta, obra citada, pg. 43

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