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CLÁUDIO LIMA:
OS LUGARES DA POESIA
Cláudio Lima acaba de editar a sua segunda obra em verso: Itinerarium. O poeta percorre neste livro os caminhos de uma viagem circular à procura da pureza inicial da palavra. Exprime em vários momentos o desencanto de um tempo concreto ( «a grande melancolia/ de não haver poesia/ até ao fim”) para depois se evadir num universo poético de outras dimensões. Vive e vibra com a sonoridade dos espaços mágicos: “antes da palavra, o sopro/ música singular, fonema/ errático, pulsar de signo/ hibernado”. Porque, afinal, no rumor da água, no canto das aves, nas vozes dos animais, no sibilar do vento, na colocação dos frutos, no crepitar do fogo, nos primeiros objectos e no espanto de todas as coisas está o segredo da palavra. Todo esse espanto significa a passagem para a festa da comunicação:
“ no tempo em que os homens falavam
as palavras eram nítidas
e vivas
eram palpáveis como coisas
e dóceis
e doces
no tempo em que os homens falavam
as palavras
como coisas:
o arco a funda
o fogo
o hálito lavado do amor
o baptismo imediato do espanto
a pergunta
sem os dígitos banais do telefone
no tempo em que os homens falavam
até os hiatos de silêncio
eram mais papoilas que metáforas”.
Assim emergem pelo conhecimento histórico e pelo ânimo interior do poeta os lugares primitivos e encantatórios da construção mágica da linguagem.
Da interpenetração do homem que escreve no “lento/ (...) ofício da mão» com esses lugares da poesia, a palavra é reinventada e chega até nós num “rumor/de antiquíssimos pastores/ soletrando em flauta/ os meridianos fonemas/ da saudade”.
Luís Dantas
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