sexta-feira, maio 18, 2007


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Amélia Aguiar Andrade
Um Espaço Urbano Medieval:

PONTE DE LIMA


UMA VIAGEM FASCINANTE

ATRAVÉS DE UMA VILA MEDIEVAL



Na tarde em que nos encontramos, na Universidade Nova de Lisboa, a historiadora tem no olhar a luz que se espalha pelos recantos da vila. São recordações da descoberta de "um espaço urbano (que) tinha escapado à descaracterização brutal que atingiu tantos outros núcleos urbanos da região". Frequentava então, no ano lectivo de 1981-82, o curso de mestrado em História Medieval da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. "Do curriculum então em vigor", diz ela, "fazia parte um seminário sobre "cidades medievais portuguesas orientado pelo Professor Doutor A.H. Oliveira Marques, no qual se pedia a cada aluno que escolhesse um núcleo urbano para investigar durante os dois anos que o seminário durava. Para alguém que crescera e sempre vivera no Entre Douro e Minho tornou-se óbvia a preferência por uma vila ou cidade aí situada. E Ponte de Lima parecia ser a escolha certa. " E foi. Feita a opção, a maior parte do seu tempo foi vivida na aventura da descoberta de documentos, de "tudo o que, na herança subsistente do passado, pode ser interpretado, como um índice revelador de qualquer coisa sobre a presença, a actividade, os sentimentos e a mentalidade do homem de outrora". "Tinha conhecimento, através de um inventário de meados do século, da existência de "documentação prometedora" nos nossos arquivos. E the last but not the least (1), havia a certeza de ter encontrado um objecto de pesquisa que nunca deixaria de me surpreender com a sua beleza. " Mas eram necessárias outras buscas: "os fundos documentais conservados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo foram pacientemente percorridos, em busca de documentos que, directa ou indirectamente, se relacionassem com Ponte de Lima." A partir daí, com os seus materiais, foi reconstituindo a paisagem, o espaço urbano e o movimento das «gentes limianas". E é precisamente nesta reconstituição que ressalta o luminoso e admirável talento da historiadora. Depois de percorrermos a sua obra - uma das obras-primas da historiografia limiana! - sentimos o palpitar de outros espaços, de outras ruas e de outras vidas.
De facto, a torrente avassaladora da escrita, que corre num rumor de alegria, arrasta-nos para tempos e espaços até então ocultos. "Espaços intensamente humanizados pontilhavam-se de casas, eiras, adegas e currais e até atafonas". Os ritmos de trabalho aparecem para ligar os homens à história e à comunidade: "tanto se ia à rua das Pereiras para fazer uma pública-forma na casa do tabelião Lourenço Afonso como a um ourives na rua de Braga; remendava-se a roupa velha na rua do Souto, no jubileiro Gonçalo Anes enquanto os serviços de um almocreve se podiam requisitar a Lourenço Esteves morador na rua da Fraria. " Mas as surpresas não acabam aqui. São infinitas. Um exemplo, apenas: se hoje nos deslocarmos à antiga venda do Xico Pessegueiro para beber uma tigela de vinho, não é possível fazê-lo sem evocar com um olhar novo a velha rua da Ribeira com as suas peixeiras. Eu vou lá, ou à antiga rua dos Mercadores, saudar a Amélia. A Amélia Aguiar Andrade, e o seu livro: uma obra para ser lida, amada e recriada por professores de História e alunos das nossas escolas.

Luís Dantas

(1) «o último, mas não o menos importante».

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