quinta-feira, agosto 24, 2006

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Título: Plenitude
Autor: Maria José Lascas Fernandes
Edição: autor
Prefácio: Manuela Rosa

As palavras reinventam a luz, as grandes claridades das paisagens, os perfumes dos montes: «as mulheres branquearam o xisto/ com cal e rendas/ungido com alecrim e incenso.» São quadros poéticos como este que emergem no verso de Maria José Lascas Fernandes. Todo o processo criativo desta obra parece deslizar em busca das imagens do Eu e captar um outro tempo mais rumoroso, mais límpido. E é por isso que por vezes descobrimos uma criança a sonhar de noite («sonhava que abria os braços no alto da eira e voava ») e a aprender de dia «nos livros as palavras que voam e cantam como pássaros», a fazer «a ronda das pereiras no restolho». Num outro belo retrato vê‑se a recordar a Amoreira que o Pai cortou pela raiz. «Acalentei a esperança», diz ela, «de que iria renascer, cobrir‑se de folhas e andorinhas.» O tempo passou. A menina cresceu. Bem se vê que nunca deixou de ser poeta. E encontrou um modo mágico de puxar os dias dos círculos esplendorosos para a sua beira. «Nesta Primavera plantei uma Amoreira, porque o vazio me acompanha.
O lugar da outra não foi preenchido, ali vive o seu espírito e o melhor de mim».
Estamos diante de uma grande poetisa.

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