QUANDO JUNTO ÀS HORAS SE ILUMINA UM RIO
DE
ALICE FERGO
Chega-nos esta poesia dos sonhos, das sombras, das aragens, das essências odoríferas, dos pomos, das palavras misteriosas, das cores e dos rios. «O rio sobe desde as profecias. Sobe como um órgão filiforme entre os quadris da areia. Ora púbere. Ora viril. Sazonal por Osíris. A jóia. O rio vê tudo com uma visão faraónica e, de tempos a tempos, conta as águas pelas constelações do reino. Logo tu, senhora de múltiplos segredos e profundos seios, nele te inquietas por quem esperas – por quem morres de morte serpentina entre a paixão do negro e do vermelho.» (1) Com a palavra, a imaginação, o estilo poético, o abstraccionismo, o arrebatamento íntimo e uma sensibilidade delicada, Alice Fergo foi criando, nesta obra, um universo místico que resgata para o nosso tempo quadros longínquos, primitivos, cristalinos e mágicos «de bisontes que pegaram no sono em salas rupestres» (2), de «lobos secretos e suas crias em desolação» (3), de «girassóis» que «dançam como felinos mansos» (4), da «água tardia com aparas de sol» (5), de «frases curtas para caberem na praia» (6) e «daquele silêncio de onde tudo vem» (7).
A força deste lirismo estremece nos sentidos e é, ao mesmo tempo, um desafio à imaginação visual. Não só porque «entre o roxo e o lilás mais parece noite» (8) ou pelo «céu de pólvora» (9), o «precipício azul dos náufragos» (10), o «campo amarelo» (11), o «dia azul exacto na casa» (12), mas principalmente pelo conjunto das imagens reveladas nos poemas. O processo do fazer poético parece que se aproxima de alguma arte expressionista, da Dança de Henri Matisse, dos Três Nus na Floresta de Ernst Ludwig Kirchner, das Casas Vermelhas de Erich Heckel, do Jardim em Flor de Emil Nolde, do Nu Feminino a Dançar de Christian Rohlfs, do Cavalo a Sonhar de Franz Marc, da Solidão de Alexej von Jawlensky, do Lago na Floresta com Dois Nus, de Otto Mueller.
A força deste lirismo estremece nos sentidos e é, ao mesmo tempo, um desafio à imaginação visual. Não só porque «entre o roxo e o lilás mais parece noite» (8) ou pelo «céu de pólvora» (9), o «precipício azul dos náufragos» (10), o «campo amarelo» (11), o «dia azul exacto na casa» (12), mas principalmente pelo conjunto das imagens reveladas nos poemas. O processo do fazer poético parece que se aproxima de alguma arte expressionista, da Dança de Henri Matisse, dos Três Nus na Floresta de Ernst Ludwig Kirchner, das Casas Vermelhas de Erich Heckel, do Jardim em Flor de Emil Nolde, do Nu Feminino a Dançar de Christian Rohlfs, do Cavalo a Sonhar de Franz Marc, da Solidão de Alexej von Jawlensky, do Lago na Floresta com Dois Nus, de Otto Mueller.
Notas
(1) Alice Fergo, Quando Junto às horas se ilumina um rio, Editora Labirinto, Fafe, 2010, pg. 27
(2) Alice Fergo, obra citada, pg. 54
(3) Alice Fergo, obra citada, pg. 29
(4) Alice Fergo, obra citada, pg. 52
(5) Alice Fergo, obra citada, pg. 58
(6) Alice Fergo, obra citada, pg. 65
(7) Alice Fergo, obra citada, pg. 44
(8) Alice Fergo, obra citada, pg. 30
(9) Alice Fergo, obra citada, pg. 17
(10) Alice Fergo, obra citada, pg. 22
(11) Alice Fergo, obra citada, pg. 25
(12) Alice Fergo, obra citada, pg. 39
1 comentário:
Muito interessante a ligação do fazer poético com a estética expressionista.A Poesia e a Pintura, por vezes, é um mistério.
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