ALTO AMOR EM ALTO RIO
POR
AMÂNDIO SOUSA DANTAS
«um dos autores mais puros do nosso «pós-modernismo» poético...»
Miguel de Mello
Suplemento cultural do Diário do Minho
Depois de Sentimento da Ausência (1981), Poemas da Imigração (1985), Na Cidade Estrangeira (1987), Emigrar na Primavera (1991), Perfeito Chão de Voar (1994), Sombra e Ramos Sobre o Peito (1997), Infinita é Toda a Nascente (1998), Há uma Eterna Liberdade (200), O Instante é a Tua Face no Poema (2001), Pousado no Silêncio (2003), No Ombro o Orvalho (2006), Poemas da Emigração» (2010), Amândio Sousa Dantas acaba de publicar Alto Amor em Alto Rio (2010). Parece-me que nenhum outro autor português trabalhou em verso tão exaustivamente a problemática da emigração portuguesa do nosso tempo nos seus múltiplos aspectos. Reconhecido o seu mérito, aqui e acolá (esteve num programa televisivo da Alemanha, foi lido e estudado nas revistas Latitudes de Paris, Colóquio /Letras da Fundação Calouste Gulbenkian, no Diário de Lisboa, no Jornal de Letras, Artes e Ideias, nos periódicos do Alto Minho), faz a sua peregrinação comprometido com a vida pelas veredas da liberdade e da fraternidade. É, por isso, um poeta das questões sociais, como foi Antero e Gomes Leal, que «leva a palavra ao sangue do poema.» Mas é também o cantor lírico do Lima, das suas gentes, dos homens, das mulheres da aldeia, da alma do universo, das nostalgias, das paisagens luminosas, das montanhas e do amor, à moda de Rainer Maria Rilke. Em muitos momentos da sua obra, lá está também a metáfora, o sonho, o enigma, o verso surreal, a evocação dos seus poetas preferidos:
OS PASSOS À VOLTA DA CIDADE
Á memória de Mário Cesariny
Os passos à volta da cidade
só céu & plátanos
( e eu o Outono deslaço).
Pelos seus laços
estrelas eu vejo
pousadas e nuas nos ramos
e a cidade à noite calada
- só estrelas & plátanos
espreitam os anjos?
Meus olhos são asas
e anjos não vejo
(presságios abraço).
Os passos à volta da cidade
sõ céu & plátanos e
anjos os ramos enlaçam.