terça-feira, setembro 07, 2010








QUANDO JUNTO ÀS HORAS SE ILUMINA UM RIO

DE

ALICE FERGO








Chega-nos esta poesia dos sonhos, das sombras, das aragens, das essências odoríferas, dos pomos, das palavras misteriosas, das cores e dos rios. «O rio sobe desde as profecias. Sobe como um órgão filiforme entre os quadris da areia. Ora púbere. Ora viril. Sazonal por Osíris. A jóia. O rio vê tudo com uma visão faraónica e, de tempos a tempos, conta as águas pelas constelações do reino. Logo tu, senhora de múltiplos segredos e profundos seios, nele te inquietas por quem esperas – por quem morres de morte serpentina entre a paixão do negro e do vermelho.» (1) Com a palavra, a imaginação, o estilo poético, o abstraccionismo, o arrebatamento íntimo e uma sensibilidade delicada, Alice Fergo foi criando, nesta obra, um universo místico que resgata para o nosso tempo quadros longínquos, primitivos, cristalinos e mágicos «de bisontes que pegaram no sono em salas rupestres» (2), de «lobos secretos e suas crias em desolação» (3), de «girassóis» que «dançam como felinos mansos» (4), da «água tardia com aparas de sol» (5), de «frases curtas para caberem na praia» (6) e «daquele silêncio de onde tudo vem» (7).
A força deste lirismo estremece nos sentidos e é, ao mesmo tempo, um desafio à imaginação visual. Não só porque «entre o roxo e o lilás mais parece noite» (8) ou pelo «céu de pólvora» (9), o «precipício azul dos náufragos» (10), o «campo amarelo» (11), o «dia azul exacto na casa» (12), mas principalmente pelo conjunto das imagens reveladas nos poemas. O processo do fazer poético parece que se aproxima de alguma arte expressionista, da Dança de Henri Matisse, dos Três Nus na Floresta de Ernst Ludwig Kirchner, das Casas Vermelhas de Erich Heckel, do Jardim em Flor de Emil Nolde, do Nu Feminino a Dançar de Christian Rohlfs, do Cavalo a Sonhar de Franz Marc, da Solidão de Alexej von Jawlensky, do Lago na Floresta com Dois Nus, de Otto Mueller.

Notas
(1) Alice Fergo, Quando Junto às horas se ilumina um rio, Editora Labirinto, Fafe, 2010, pg. 27
(2) Alice Fergo, obra citada, pg. 54
(3) Alice Fergo, obra citada, pg. 29
(4) Alice Fergo, obra citada, pg. 52
(5) Alice Fergo, obra citada, pg. 58
(6) Alice Fergo, obra citada, pg. 65
(7) Alice Fergo, obra citada, pg. 44
(8) Alice Fergo, obra citada, pg. 30
(9) Alice Fergo, obra citada, pg. 17
(10) Alice Fergo, obra citada, pg. 22
(11) Alice Fergo, obra citada, pg. 25
(12) Alice Fergo, obra citada, pg. 39

sábado, setembro 04, 2010







O CORPO NA VERTIGEM

de

JULIÃO BERNARDES









Nesta obra de Julião Bernardes, O Corpo na Vertigem, não existe a separação sujeito/objecto. Todas as temáticas, a vida, o homem, o corpo, a terra, o amor, a palavra, o tambor, a dança, o sonho, o rio, o mar, o silêncio, a noite, o vento, a saudade, a dor, as folhas no verde da paisagem, a praia deserta, a casa e o natal, são vividas profundamente pelo poeta na sua escrita luminosa e criativa. De poema em poema, a redescoberta do seu mundo aparece com uma luz nova no vocabulário rumoroso, nos efeitos plásticos, nas metáforas, na magia da sonoridade. Da ambiência africana, vem este poema, O Batuque:




O calor
destes dias
de langor

Noites frescas

pitorescas


O rumor

do tambor

em louvor

do deus Pã


O tantã


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantanã


Corpos suaves

remexidos

no abandono

do tambor


Tã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Pés que arrastam

a distância

pés que oscilam

sem canseira

e deliram

noite inteira


Tã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Mãos nas ancas

que balançam

livremente


docemente


vagamente


violentamente


na entrega

ao prazer

de mover

por mover


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Bocas secas

sequiosas

desejosas

de beber


para a sede

não sentir


e que pedem

a entrega

num sorriso

que se pega

a sorrir


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Tudo dança

corpo e alma


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


e tão sinples

este gosto


de matar

o desgosto

na entrega

sem disfarce


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


A alegria


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


A magia


Tã tantã tantantã

tã tantantã

tã tantantã


Noites quentes

de luar

que convidam

a seguir

sem parar

‘té manhã


este ritmo

do tantã


Tã tantã tantã tantantã

tã tantantã

tantantã









RETRATOS GALLEGOS

Luís Dantas











Em Retratos Gallegos a tenaz sagacidade da comunidade galega, principalmente em Portugal, é abordada de forma inovadora e criteriosa, bem ao jeito criativo do fazer história deste escritor investigador.

José de Sousa Vieira
in Da Minha Sebenta

Limianismo, corrente cultural e afectiva sobre Ponte de Lima e o Vale do Lima

O autor limiano Luís Dantas acaba de lançar mais um livro, desta feita intitulado «Retratos Gallegos».
Na publicação de 140 páginas, Luís Dantas fala da terra e o povo no século XIX, a emigração interpeninsular, a emigração transatlântica, os galegos entre Douro e Minho, os aguadeiros em Lisboa, os amoladores e moços de fretes, gente de negócios em Lisboa, Santo Amaro dos Galegos e os galegos no Teatro D. Maria II.
Luís Dantas tem publicados onze livros, entre poesia e prosa.

Jornal Alto Minho, 2 de Setembro de 2010